Fabiana
Figueiredo
@FabianaFgrd
Na
história do transporte público macapaense, podemos perceber a precariedade que
esse setor tanto enfrentou. Sempre houve um empecilho que incomodou e, ainda
hoje, incomoda bastante quem está na gestão dos órgãos competentes, e que
impede de realizar ações para a melhoria desse tipo de transporte. Denomina-se
justiça o dificultador da solução dos problemas do transporte coletivo. Vários
processos foram enviados, mas ficaram retidos, esquecidos ou recusados pela
justiça. Esta reportagem vai abordar os últimos episódios de desentendimento
entre o Tribunal de Contas do Estado (TCE), o Sindicato das Empresas de
Transporte de Passageiros do Estado do Amapá (Setap) e a população.
Em 1997,
quando, ainda no governo estadual do saudoso Annibal Barcellos, o primeiro processo
licitatório foi feito para que as empresas pudessem operar legalmente. A título
precário, o contrato foi assinado somente no ano seguinte, tendo validade de apenas
10 anos de funcionamento legal. Entravam em operação, liberadas pela justiça,
as duas únicas empresas de transporte público da cidade de Macapá: Estrela de Ouro
e Cattani. Isso, há 15 anos, quando a quantidade de habitantes da cidade era
inferior a 250 mil habitantes.
Após
10 anos, expirando-se o contrato, e o prefeito da época, João Henrique
Pimentel, entrou com um pedido de solicitação de renovação do contrato, foi
impedido pela justiça, alegando que a prefeitura deveria ter entrado com o
processo licitatório no ano anterior, antes que se estourasse o prazo. E a
situação ficou à mercê, sendo que a população continuou utilizando o transporte
coletivo, acumulando, assim, os problemas do serviço público.
Quando
o próximo e atual prefeito da cidade de Macapá assumiu a gestão, ele logo
tratou de iniciar os processos licitatórios para a melhoria do transporte
público e aquisição de novos utilitários, através da Companhia de Trânsito e
Transporte de Macapá (CTMac).
O processo de licitação
Carlos Sérgio
Monteiro, diretor-presidente da CTMac, antiga Empresa Municipal de Transportes
Urbanos (EMTU), propôs a melhoria do transporte público da capital, e a ideia é
a aquisição de novos ônibus para “desafogar” a grande demanda de passageiros,
aumentada por meio do crescimento populacional de Macapá. De forma legal,
respeitando a lei federal de número 8.666, na qual o Município deve lançar
concessões de compra através de licitações, a CTMac enviou, no ano passado, a
licitação à Câmara Municipal de Vereadores de Macapá, que iria analisar o
documento. Após a aprovação da Câmara, o edital foi lançado. O TCE pediu a
suspensão do edital, por encontrar algumas irregularidades. O juizado, por meio
da juíza Keila Banha, certificou 19 correções a serem feitas no edital de
licitação de aquisição de 200 novos ônibus para a capital amapaense.
Carlos
Sérgio se diz surpreso com a decisão da juíza, pois o edital está periciado
pelo TCE, portanto não havia motivo da suspensão. O ato foi deferido às
vésperas do relançamento do mesmo edital já corrigido.
Segundo
o presidente da CTMac, a juíza Keila encontrou três erros que não existem. “Nós
agravamos da decisão, estamos mostrando ao Tribunal de Justiça do Amapá essas
falhas, mostrando a inconsistência dessa decisão, e vamos continuar acreditando
que podemos reverter essa situação”, disse Carlos Sérgio.
Renivaldo
Costa, atualmente assessor de comunicação da Prefeitura Municipal de Macapá, soltou
o verbo e comentou sobre o assunto: “Eu penso que a própria juíza que suspendeu
o processo licitatório deveria declarar suspeição sobre si, visto que ela é sobrinha
do Secretário Estadual de Infra-Estrutura, Joel Banha. Onde sabemos que há esse
clima de animosidade, que o Governo tem criado empecilhos e boicotes às ações
do Município.”
O
embargo enviado ao TJAP será analisado para ser recorrido em primeira instância
pelo corpo de desembargadores daquela instituição. O Município espera que a
situação seja logo resolvida, pois o transporte coletivo está atuando de forma
ilegal, e as licitações vêm para legalizar essa situação que está sendo
dificultada por ações de juízes.
“A
juíza Keila deu decisão favorável aos empresários. Entretanto, quem perde com
isso não é o prefeito Roberto Góes nem a CTMac,
mas, sim, o povo que utiliza o transporte coletivo e que via nessa licitação a
esperança do fim dos atrasos e da melhoria dos ônibus que rodam em Macapá”,
indigna-se Carlos Sérgio.
Briga Tarifária
Outra
situação incerta é a briga entre as empresas de ônibus, representadas pelo
SETAP, e o povo, representado pela CTMac. Vamos relembrar alguns passos desse
confronto.
Desde
quando a passagem de ônibus na cidade de Macapá custava R$1,95 – um preço
acessível e, segundo a visão da população, é de acordo com os serviços prestado
-, a justiça, o Setap e a Prefeitura vêm debatendo a questão do reajuste do
preço pago por cada passageiro.
Não é de hoje que
empresários amapaenses vão à justiça reclamar da defasagem do preço, e impõem
que a tarifa seja revisada, pois quase sempre representantes estão presentes
nos corredores dos órgãos judiciários. O Judiciário, por sua vez, tantas vezes
já aumentou a tarifa, após um estudo na situação do transporte.
Por conta da indecisão
das partes, abriu-se uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no final do
ano de 2011, na Câmara de Vereadores, que analisa todas as imposições e ações
feitas com relação ao transporte público (incluem-se as planilhas de tarifação,
compras e irregularidades).
A polêmica em torno do
reajuste da passagem iniciou por volta de julho de 2010, quando a prefeitura
nomeou representantes para compor a Comissão de Transporte Escolar (CTE), que foi
reativada após dois anos, e tem o objetivo de discutir o impacto do aumento no
bolso do macapaense, principalmente dos estudantes.
Para
que se determine a tarifa, é necessário um estudo, baseado em uma planilha. Na
situação de Macapá, o estudo foi feito pelo Setap, resultando no valor de
R$2,57. A prefeitura recorreu à justiça, por acreditar que era um preço
injusto. A perita Maria Angélica, nomeada pela justiça, analisou a proposta e considerou
justo o pedido de reajuste para R$ 2,57, mas foi criticada pelo município.
Maria
Angélica foi presa na Operação Akator da Polícia Federal, sob a acusação de facilitar
a emissão de documentos para empresas de mineração, e, em troca, receber
propina dessas mineradoras. Dois meses antes de ser presa (em Julho de 2008),
ela periciou a planilha do Setap que reajustou o preço da tarifa em R$1,95. Mesmo
com acusações, o juiz Ailton Marcelo Mota Vidal indicou-a para fazer a perícia
da última proposta do Setap (de R$2,57).
“Nós
fizemos um estudo técnico, contratamos o instituto ‘Rua Viva’ que fez o estudo
e apontou uma tarifa de R$2,16”, diz Carlos Sérgio, após fazer seu estudo, e alegou
que os dados da planilha do Setap podem estar equivocados, privilegiando as
empresas de transporte que querem o reajuste para benefício econômico e não
benefício social.
A
proposta da Companhia foi levada à Câmara de Vereadores, para dar um veredicto.
Após o período de recesso que houve, a proposta da justiça de R$2,30
surpreendeu a CTMac, que levou o relatório da CMM ao Ministério Público, e que
ficou retido no órgão. Carlos Sérgio questiona: “onde estão as medidas que o MP
tinha que tomar em relação à CPI? Pois o relatório foi mandado para que o MP
veja os indícios e faça, caso tenha algum equívoco confirmado, um processo
oferecendo uma denúncia ou indiciando aqueles responsáveis. Até hoje não se fez
nada, adormece no MP essa situação. Os interesses são muitos e nós temos essa
responsabilidade com a população de Macapá.”
O Setap
já havia apresentado o aumento de R$ 2,57, a CTMac sugeriu o valor de R$ 2,16 e,
o Conselho de Transporte aprovou R$ 2,30, que é a tarifa atual.
É R$2,30 pra cá, é R$
2,16 pra lá, é R$ 2,57 pra acolá, e, assim, o cidadão fica em segundo plano, e
pagando tarifas que não correspondem com a situação: um preço inadequado para
um transporte que mal passa por revisão, limpeza, manutenção e, muito menos,
renovação de frota.
[Matéria extraída e adaptada da Edição 312, do Jornal Tribuna Amapaense]
[Matéria extraída e adaptada da Edição 312, do Jornal Tribuna Amapaense]
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