sábado, 5 de maio de 2012

Um problema antigo, mas que incomoda moradores das Pedrinhas durante todo o inverno

Fabiana Figueiredo
@FabianaFgrd

A Lagoa de Decantação, em que deságua a
água contaminada pelos resíduos fecais.
O Bairro das Pedrinhas surgiu no ano de 1992, a partir da construção de 122 casas populares que constituíam o Conjunto Anibal Barcellos, criado pelo governador de mesmo nome do conjunto.  As famílias que ali moram, migraram do Bairro Santa Inês para residirem na área doada pelo governo. Além do comércio madeireiro, o Bairro abriga uma bacia de decantação da Companhia de Água e Esgoto do Amapá, desde 1972, que recebe dejetos de várias áreas da cidade de Macapá.

Entretanto, essa fossa séptica não é coberta, tornando-se um lago de decantação a céu aberto, o que a faz liberar o mau odor, poluindo o ambiente e gerando doenças para a população que ali próximo mora. Segundo o comerciante C.S.N., 30 anos, que reside no conjunto há 13 anos, afirma que esse problema não é de hoje e que já fizeram muitas denúncias, porém nenhuma delas foi atendida. Ainda de acordo com ele, "a situação piora quando chove", pois a água da chuva faz com que os dejetos se misturem e liberem um odor desagradável.

O problema da bacia faz com que crianças, principalmente, fiquem mais suscetíveis a adquirirem doenças respiratórias. Assim como os filhos de Cléo Costa, moradora da invasão das Pedrinhas, que brincam perto do lago contaminado e ficam doentes rapidamente.


Outro morador do local, o pedreiro Luiz Batista da Silva, reclamou que a situação vem se repetindo em todos os governos dos últimos 20 anos. Pai de seis filhos, ele afirma que é insuportável o mau cheiro, e que seus filhos constantemente manifestam vários tipos de doenças, principalmente respiratórias e cutâneas. "Os meus filhos vivem com problemas respiratórios e na pele. E fazer refeições em época de chuva é muito desagradável por causa do cheiro", afirmar seu Luiz.

O pedreiro destacou sua preocupação com a água utilizada pelos moradores do conjunto, pois ela não é tratada pela CAESA. "Não conseguimos receber água encanada da CAESA, então fizemos um mutirão, cavamos poços artesianos, construímos os elevatórios e até ganhamos as bombas. Porém, eu tenho quase certeza que essa água não é boa, porque ela entra em contato com essa fossa debaixo da terra e deve estar contaminada. Nós cavamos os poços com 24 metros de profundidade e alcançamos o lençol freático, o que confirma isso o que estou dizendo", explica Luiz.

De acordo com as explicações dadas pelo presidente da CAESA, Ruy Smith, "no decorrer desses 40 anos não teve nenhuma manutenção no sistema, logo, ela passou a falhar muito." Assim como a cidade ia crescendo, ocupando áreas antes inabitadas, o sistema de esgoto já não atendia mais toda a população macapaense. "Então, nós já tivemos um sistema de esgoto que cobria muito mais que a metade da cidade e esse sistema hoje só atende 4% da cidade" completa Ruy.

A CAESA informa que tem "um recurso de R$10,5 milhões de reais para fazer a recuperação da rede de esgoto. O recurso é do PAC, com o Ministério das Cidades e, em contra partida, o Governo do Estado. De uma parte, está sendo feito a recuperação da rede do centro da cidade, como troca de tubulações - tubulações essas de 1972 - que foram colocadas pelo Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS) do Governo Federal."

Parte do dinheiro que será investido na recuperação da bacia de decantação, será utilizada para "recuperar as elevatórias e, em torno de R$ 2 milhões, serão aplicados na lagoa de estabilização". Como uma possível solução desse caso, Ruy Smith garante que irá "mandar o técnico social, que trabalha na sensibilização, na informação e, às vezes, na conscientização da população em relação às nossas obras. E os efeitos bons e maus que eles trazem. Eu vou pedir para eles fazerem um relatório sobre a lagoa e trazerem um retrato da situação pra mim".

A situação foge do controle, tanto que durante o tempo em que a reportagem ficou no local, foram observados sete caminhões despejando materiais fecais na lagoa e sem nenhuma supervisionação. Ainda de acordo com informações da CAESA, as empresas devem se "legalizar" pagando uma taxa de valor irrisório por empresa, autorizando, assim, o despejo na bacia. Sendo que a Companhia já está se reunindo para mudar essa tarifação: em vez de ser por empresa, a taxa será paga por veículo de despejo.

O jeito agora é ficar no aguardo, enquanto as precauções serão tomadas pela CAESA e se reunindo com a população do local, segundo garante o próprio presidente da instituição.

[Matéria extraída e adaptada da Edição 303, do Jornal Tribuna Amapaense]

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