terça-feira, 17 de julho de 2012

Homenagem à minha Bisavó

Fabiana Figueiredo
@FabianaFgrd

(Conhecem minha Bisavó? Esta é Enerina Nascimento Figueiredo, Matriarca da minha família. Esta é a editoria do Jornal onde trabalho que relembra a vida de pioneiros deste rincão brasileiro, mas principalmente, dessas terras tucujus. Agradeço publicamente o belo trabalho de minha colega Babi Cantuária, por escrever este texto que já emocionou tantas pessoas do meu seio familiar e amigos.
Texto Original do Blog Tribuna Amapaense, em 30 de junho de 2012)


"Hoje em dia, essas crianças não respeitam mais os pais. Elas respondem quando são chamadas a atenção"

Por Babi Cantuária

Alegre, religiosa, vaidosa, dedicada e batalhadora são algumas características que você logo percebe ao conversar com a pioneira dessa semana, Enerina Nascimento Figueiredo, mais conhecida como Teté. Com 94 anos e inúmeras histórias para contar, é angustiante saber que infelizmente a composição de sua trajetória ficará com algumas lacunas, pois apesar da ajuda de sua neta, Silvana Figueiredo, o tempo apagou da memória de Teté fatos importantes de sua vida. 

É surpreendente observar que mesmo com todas as dificuldades presenciadas por Enerina, seus olhos claros refletem sua felicidade em cumprir o objetivo de ter criado uma admirável família. Ela teve 12 filhos com Alfredo José Figueiredo (falecido), dos quais 10 estão vivos e se orgulham em tê-la como mãe. A nova geração de parentes é representada pelos 40 netos, mais de 50 bisnetos e 3 tataranetos.

Sua história começou no Afuá
Enerina Nascimento nasceu no dia 1º de abril de 1918, em Cajari, no município do Afuá, no Pará. Apesar de tanto tempo, Teté se recorda com saudades da sua infância e dos laços de afetividade que tinha com sua avó, que ela considera como mãe. "Eu sinto muita falta daquela época, porque a minha avó gostava muito de mim e dizia que era minha mãe de criação. Ela sempre fazia tudo para que eu me sentisse melhor".

Com uma alegria e lembrança particular, Enerina conta que namorou e logo em seguida se casou com Alfredo Figueiredo, e que ele sempre foi um bom esposo: "Minha relação com o meu marido sempre foi de respeito e amor". Ela se sente grata por ele ter assumido a liderança e sustentando toda a família  nos duros trabalhos de colher castanhas e cortar seringueiras. "O meu marido fazia o serviço braçal, ele trabalhava em roça. Às vezes eu ia acompanhá-lo, mas preferia ser dona de casa, para fazer açaí e criar os porcos".

Naquele tempo, ambos lutaram muito para educarem seus filhos, pois acreditavam que o estudo era o único meio para suas crianças terem conforto no futuro, já que eles não podiam ter maiores condições de vida. "Mesmo morando no interior, matriculei os meus filhos no colégio. Quando dava o horário, os levava e buscava da escola".

Mas o destino a trouxe para Macapá
Mesmo com saudade da sua família e de todos que ficaram no Pará, Enerina decidiu acompanhar seu marido a Macapá, na busca de melhor situação financeira. Ao chegar à capital amapaense, como Alfredo não tinha estudos, aceitava sem temor qualquer trabalho braçal que aparecia. Enerina, sendo uma mulher batalhadora também não media esforços: ficava em casa educando os filhos e lavando roupas para grandes comerciantes e pessoas da alta sociedade da época.

Era notória a admiração da clientela por Teté, que apreciava o capricho e zelo que ela destinava ao seu trabalho, ao realizar as tarefas com esmero em todas as peças que chegavam às suas mãos. "Criei vínculo com os meus fregueses. Já era certo quando chegavam as embarcações e as mulheres dos comerciantes me davam aquelas trouxas para lavar, passar e entregar as roupas".

Do suor de seu belo rosto, emanava a alegria de poder proporcionar um pouco do muito amor que nutria por seu esposo e pelos queridos filhos. E, entre pontes e igarapés, no ir e vir com as trouxas na cabeça, viu, quase sem entender, a beira do canal ser transformada na grande Avenida Mendonça Júnior, que junto ao Bairro Central foi dando lugar as lojas do centro comercial. "Eu morava na beira do canal da Mendonça Júnior e nem percebi quando as lojas tinham tomado conta de todo o bairro".

Com seu espírito jovial e cheia de vontade de contribuir ao lugar que lhe acolheu tão bem, não media esforços para atender os vizinhos e pessoas que visitavam sua residência. Entre causos e muita música, surgiu a ideia de lançar um bloco para brincar carnaval, que foi prontamente acolhida por Enerina, ao oferecer a sua casa e tranquilidade para os ensaios iniciais. Sem perceber, nasceu o Blocanal, do qual foi presidenta de honra durante muitos anos, até se mudar para o bairro do Pacoval, onde vive atualmente. "Eu não moro mais no Centro, mas a minha torcida continua pelo bloco. Tenho muito carinho por todos os integrantes"

Com quase um século de vida, ela é testemunha ocular de grandes feitos e do crescimento de Macapá, ao comparar a realidade atual com o passado desta cidade, ela diz estar insatisfeita com a sociedade local e a falta de respeito dos filhos para seus pais. "Hoje em dia, essas crianças não respeitam mais os pais. Elas respondem quando são chamadas a atenção". 

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